terça-feira, 13 de março de 2007

Tenho saudades do camelo

Fevereiro 97 s/data
Estou num centro comercial, e é uma cave, e tenho um casaco azul celeste sobre os ombros, e uma camisola igual de conjunto que levo na mão. E como estou a andar muito depressa o casaco cai, e só dou por isso uns metros à frente. Volto-me e ainda o vejo. Vou apanhá-lo. Caiu numa poça com alguma lama. E a camisola também está ligeiramente húmida de ter caído numa poça parecida. Volto-me contra uma parede para apertar os botões da minha blusa, que não estão fechados e até me está a ser difícil apertá-los. Depois olho para o casaco e a camisola e penso que pena, porque quando os lavar perdem metade da graça. E penso: vou ter de os lavar a seco. E penso: foram caros. E é estranho porque não costumo ter nada de vestir em azul, quanto mais azul celeste.
E depois estou em cima de um camelo, mas é um camelo pequeno, mas não é um camelo criança. É só pequeno. E estamos num quarto andar, a entrar numa loja de um indiano e é uma loja que vende roupa e muitos tecidos. E é uma loja onde não há expositores, as roupas estão penduradas em cordas de roupa, e enquanto vamos avançando o camelo enrola a cabeça, sem querer, na roupa pendurada. E o indiano dá-lhe estaladas, e eu fico zangada, porque o camelo não tem culpa. E tiro a roupa da cara do camelo, ou pelo menos estou a tentar tirar, e o indiano está a dizer que aquilo já causou muitos prejuízos, e eu digo que pago tudo. E depois não sei do camelo e estou tristíssima, e acho que alguém o levou e tenho tanta, tanta pena, porque tenho saudades do camelo.

Advogado, Precisa-se!

NOITE DE 25 PARA 26 JANEIRO DE 1997
Estou numa casa que está em obras, e os trabalhadores estão todos fora, no quintal, e ligam uma máquina que cria, dentro de casa, a ausência de gravidade. E eles têm que avisar as pessoas quando ligam a máquina, mas ou por pensarem que já não está ninguém, ou porque querem lá saber, ligam a máquina. E eu estou na casa de banho, e as janelas estão abertas. Fico muito aborrecida a pensar que um bocado mais cedo e tinha sido colada ao tecto com o rabo ao léu. Mas não chego sequer a ficar colada ao tecto. Entretanto eles vêm-me à janela e põe uma música, ou cantam. É uma música com o meu nome.
Estou um bocado envergonhada por ter que passar por eles, de modo que ponho óculos escuros, e vou sempre a falar com o Berna.
Depois chegamos a uma estação de caminho de ferro porque vamos apanhar o comboio. Está muita gente na plataforma e não consigo subir, porque toda a gente se empurra, e o comboio está a ficar cheio.
E a Susana está comigo, agora. E eu digo-lhe que não é possível subir para o comboio assim. Estou vestida de freira, o que é incómodo, porque o véu, que é um chapéu de pontas reviradas, está sempre a escorregar. É um hábito imposto. E então vemos uma coisa extraordinária. O comboio começa a andar para trás, e toma uma velocidade incrível. E eu digo que sorte não termos conseguido entrar, porque aquela história vai descarrilar com aquela gente toda lá dentro.

E o comboio está a andar cada vez mais depressa para trás, até que faz uma extraordinária inversão de marcha, e muda de linha, sempre a continuar na mesma, com as rodas a chiar em cima dos carris. Parece uma manobra de montanha russa, ou de comboio fantasma, não é uma manobra de comboio normal - estas coisas que só nos sonhos, penso eu a sonhar - e volta a andar na nossa direcção, só que agora não é um grande comboio cheio de gente, é só a locomotiva.
E estamos em Tomar. E eu digo que vou fazer queixa daquele maquinista, e a Susana diz-me que em Tomar a percentagem de manobras perigosas dos Caminhos-de-ferro é tão grande que quase toda a gente é advogado ali. E em todos os edifícios, em todas as lojas e todas as casas, há um advogado. E quando não há, há um letreiro a dizer «advogado, precisa-se». E nós espreitamos para dentro de uma loja de antiguidades, para eu ver se descubro lá dentro algum advogado de carne e osso.

O sonho com Joshua

NOITE DE 25 PARA 26 JANEIRO DE 1997
Joshua vem ter comigo. É uma aproximação muito grande e é uma despedida. Ele abraça-me e eu digo-lhe que tinha passado o nosso tempo. Apesar de tudo o que ele me continua a escrever na vida de acordados. Falamos desses postais e dessas mensagens. E ele diz "mas tudo o que eu escrevi foi com todo o amor e é tudo verdade, só que eu não consegui, eu não consigo."
E eu digo-lhe "eu sei , não te preocupes." A Lu está perto, mas queremos conversar mais e andamos à procura de um sítio isolado para falar, mas não encontramos. Estamos muito comovidos, mas não é um sonho triste.

O sonho dos ovos

NOITE DE 25 PARA 26 JANEIRO DE 1997
Sonhei outra vez com ovos, outra vez com Joshua, com a Susana e com um comboio, tudo em sonhos diferentes.
No sonho dos ovos eu e a Susana chegamos das compras e estamos na cozinha. É uma cozinha grande com uma banca de mármore. Ao pousar o saco das compras percebo que o pousei com muita força, de modo que os ovos, uma embalagem grande, a maior embalagem, se racharam. A Susana diz-me "não fiques preocupada, mas não os guardes assim. Aproveita o que puderes, porque vamos cozinhá-los."
Então abre os ovos, que têm uma gema muito amarelinha, e coloca-os dentro de uma vasilha, e os que não estão bons deita fora. Ela faz tudo em cima da banca e com as mãos. Um ou outro têm lascas de peixe dentro, aliás são ovos de lascas de peixe, e eu junto-os , e fico com as mãos todas embodegadas para os meter num saco e deitar fora. Estamos muito ocupadas as duas naquela cozinha a fazer estas coisas.