domingo, 23 de dezembro de 2007

o tubarão pequeno

NOITE DE 26 PARA 27 DE MAIO DE 1997
Praia, águas, coisas que não recordo. A certa altura estou num cais, ou num paredão. Há muita gente ali. Homens-rãs com projectores, polícia marítima. Parece a filmagem de um episódio para o cinema ou para a televisão. Penso que procuram um cadáver. Alguém morreu ou desapareceu. Ouve-se dizer:«Deve estar próximo, porque cheira.»As águas não são límpidas. Acho que é por ser de noite. Tento atravessá-las com os meus olhos, mas só vejo sombras. Comigo está uma menina. Tem dez anos.
Alguém, agarra um peixe e parece um tubarão. É um tubarão pequeno. Sacode-se e agita-se nas mãos que o trazem da água para a terra, e é então que a menina o colhe daquelas mãos que o tiraram da água para as suas, como se fosse um fruto que se apanha. O tubarão aquieta-se.

O ovo da serpente

NOITE DE 18 PARA 19 DE MAIO DE 1997
Estou num quarto, e acho que é um quarto de hotel, e acho que estou com o Drew e vamos tomar chá. O chá já está feito, e ele serve-se num copo de vidro grosso e arranja para mim um copo parecido mas é de um vidro mais fino. Eu peço um copo igual. Não há copos exactamente iguais, mas ele arranja-me um parecido com um pires de vidro muito grosso, e eu fico satisfeita. Depois ele estende-me uma folhas, penso que de menta, e diz que são para perfumar o chá. Estendo-as com cuidado e elas cobrem toda a superfície da infusão. Percebo que têm pó. Pergunto se as lavou. O pó, com o calor, torna-se mais evidente. Dou-lhe o resto das folhas para as lavar. E resolvo tirar as minhas, com cuidado, para as sacudir e lavar. Percebo que o calor fez eclodir ou evidenciar uma série de lagartas, muito verdes. Sacudo-as e caiem ao chão. Depois fica preso nas folhas um ovo de serpente, minúsculo. É absolutamente transparente. Dentro do ovo a serpente está completamente formada, e agita a língua bífida e os seus olhos brilham intensamente, ferozmente. É uma serpente minúscula, mas está pronta a atacar. Penso que tem uma cauda com ferrão. Pego na folha com cuidado. Mostro a sua morfologia a alguém, e explico-lhe que é uma serpente fêmea, e que subjacente ao seu corpo filiforme, translúcido, há braços e formas femininas que são envolvidos na uniformidade do seu corpo. Como se, e nas suas remotas origens, antes de ser serpente, tivesse sido mulher. Depois saio, e o ovo fica preso a um biombo. Quando volto, com dois amigos meus, um acho que é o P.M., para lhes mostrar aquele ovo, já não encontro nada.

Se estivesse aquio Peter Pan e a Fada Sininho

NOITE DE 6 PARA 7 DE MAIO DE 1997
É preciso entrar dentro de uma casa mas o acesso só é possível pela janela iluminada que se vê do chão, e através de uma escada muito precária encostada ao muro e tendo um banco como base de apoio. Há várias pessoas para entrar. Organizo-as da melhor forma para não se perder tempo. E guardo-me para o fim para ter a certeza de que todos entram. Vejo uma tesoura e uma faca e sei que é preciso levá-las, mas como também tenho um saco está a ser difícil subir naquelas condições. Entrego aqueles instrumentos aos que já estão a meio da escada. Atiram-nos pela janela, descrevendo um arco no ar e cortando o rectângulo iluminado. Depois só faltam subir uma menina e eu. Quando ela está quase a conseguir vai deslizando pela parede e não consegue. Empurro-a com força e ela diz-me: «Se estivesse aqui o Peter Pan e a Fada Sininho ainda era capaz.» Chamo o Drew com toda a força. E a janela já não está iluminada, já é uma claridade difusa que se espalha por todo o sonho, como se estivesse a amanhecer.
E agora já não quero subir a uma janela, porque estou a descer a uma cave. Estou à espera que me chamem. Há duas raparigas muito novas que vêm ter comigo ao quarto da cave onde aguardo. Estão nuas. E há um casal perseguido pela polícia porque tentou matar um bebé. Esse casal já foi apanhado uma vez, mas libertaram-nos com bebé e tudo. Agora estou à porta a ver se os apanho e o Drew está no corredor e há mais gente aguardando, quando passa por nós um casal, mas é tão diferente do que estava à espera que ninguém lhes liga. Fico muito incomodada, porque, apesar de diferentes, eu sinto que são os mesmos. Ela empurra uma cadeira de rodas e tem uma touca de enfermeira, ele está na cadeira de rodas. O casal que estávamos à espera não coincide com esta descrição. Mas eu avanço, incomodada, até porque oiço um bebé a chorar, e então há um homem da polícia que descobre um bebé quase sufocado, porque eles estavam a tapar-lhe a boca com as mãos para ele não respirar. E é um bebé moreno e forte e agora vê-se que está de boa saúde. E eles fugiram e eu fiquei indignada. Depois vou a persegui-los, entro num Centro Comercial, num dos níveis mais elevados, e as escadas rolantes são lindíssimas e brilham. E são uma espécie de montanha russa. E alguém me diz que não faz mal não ter dinheiro porque naquelas escadas ganha-se crédito. Como se, subi-las ou descê-las energizasse a nossa conta bancária.

Ofereceram-me um automóvel

NOITE DE 16 PARA 17 DE ABRIL DE 1997
Ofereceram-me um automóvel. Parece um rebuçado. É todo branco, mas tem uns pormenores em verde e noutra cor que não me lembro, mas são cores translúcidas, e esses pormenores são uma espécie de apêndice do carro, que o tornam especial. Também me lembro do E. B. que já morreu e foi um colega e amigo há muitos anos. E a mulher dele também entra. Não é suposto ela aparecer, e aliás ele estava a atirar-se a mim. Parece que ela chega para controlar o marido, mas eu não me importo porque também a conheço. E vejo, na rua, o meu amigo João Carlos, que já não vejo há muito tempo, e digo, olha, é mesmo ele! E o João levanta a cabeça e vê-me, e eu mando-o subir, porque tenho mesmo vontade de saber como é que ele está, e se continua em Angola, e se a história dele com a tal rapariga correu bem, e tal.