terça-feira, 13 de março de 2007

Advogado, Precisa-se!

NOITE DE 25 PARA 26 JANEIRO DE 1997
Estou numa casa que está em obras, e os trabalhadores estão todos fora, no quintal, e ligam uma máquina que cria, dentro de casa, a ausência de gravidade. E eles têm que avisar as pessoas quando ligam a máquina, mas ou por pensarem que já não está ninguém, ou porque querem lá saber, ligam a máquina. E eu estou na casa de banho, e as janelas estão abertas. Fico muito aborrecida a pensar que um bocado mais cedo e tinha sido colada ao tecto com o rabo ao léu. Mas não chego sequer a ficar colada ao tecto. Entretanto eles vêm-me à janela e põe uma música, ou cantam. É uma música com o meu nome.
Estou um bocado envergonhada por ter que passar por eles, de modo que ponho óculos escuros, e vou sempre a falar com o Berna.
Depois chegamos a uma estação de caminho de ferro porque vamos apanhar o comboio. Está muita gente na plataforma e não consigo subir, porque toda a gente se empurra, e o comboio está a ficar cheio.
E a Susana está comigo, agora. E eu digo-lhe que não é possível subir para o comboio assim. Estou vestida de freira, o que é incómodo, porque o véu, que é um chapéu de pontas reviradas, está sempre a escorregar. É um hábito imposto. E então vemos uma coisa extraordinária. O comboio começa a andar para trás, e toma uma velocidade incrível. E eu digo que sorte não termos conseguido entrar, porque aquela história vai descarrilar com aquela gente toda lá dentro.

E o comboio está a andar cada vez mais depressa para trás, até que faz uma extraordinária inversão de marcha, e muda de linha, sempre a continuar na mesma, com as rodas a chiar em cima dos carris. Parece uma manobra de montanha russa, ou de comboio fantasma, não é uma manobra de comboio normal - estas coisas que só nos sonhos, penso eu a sonhar - e volta a andar na nossa direcção, só que agora não é um grande comboio cheio de gente, é só a locomotiva.
E estamos em Tomar. E eu digo que vou fazer queixa daquele maquinista, e a Susana diz-me que em Tomar a percentagem de manobras perigosas dos Caminhos-de-ferro é tão grande que quase toda a gente é advogado ali. E em todos os edifícios, em todas as lojas e todas as casas, há um advogado. E quando não há, há um letreiro a dizer «advogado, precisa-se». E nós espreitamos para dentro de uma loja de antiguidades, para eu ver se descubro lá dentro algum advogado de carne e osso.

2 comentários:

  1. Que lindo!!!

    Quando entender vou gostar mais ainda.

    Internet é que nem papel.

    Afff.

    José.

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  2. Obrigada! Visualize o meu sorriso. Porquê afff?

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