segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Eu estou no mato. Eu conheço África.

Noite de 5 para 6 de Junho de 1999
Volto para aquela terra onde vivi, há muitos anos. [...] Eu vou trabalhar para lá mas sinto-me desterrada. E há perigos. Dentro da minha casa fecho as portas e as janelas, mas é tudo um pouco provisório.
Há uma mulher e um homem. Eles são ameaçadores. Eu vou à Pousada com a mulher, porque quero convencê-la de que não desconfio de nada, para lhe fazer baixa a guarda. À entrada da Pousada está a Alexandra, sózinha. Entramos, e vamos para uma sala ao fundo. Julgo que convenci a mulher da minha ingenuidade, e fico satisfeita. Contudo, penso que é melhor fugir o quanto antes daquele lugar.
Reparo que não trouxe a carteira, mas já não é possível voltar atrás, para ir buscá-la. Agora a Alexandra não está na entrada. E eu não sei como avisá-la.

Percebo que é urgente fugir.
Saio e vejo no alto de umas escadas, homens emboscados que me querem matar. Um deles dispara um tiro na minha direcção. Não me acerta, mas as balas ricocheteiam na parede. Fujo, descendo uma rampa que dá para uma oficina. É uma oficina de um país africano, está cheia de carros, a maior parte deles muito velhos. Para saírem da oficina têm que receber uma ordem. Essa ordem é dada por uma senha que um senhor negro, idoso, tem, chamando os carros pelos números.
Eu sei que em África toda a gente apanha boleia de toda a gente. Mas o dono do carro que já pode sair não aparece. É um mini, mesmo minúsculo. Continuo a andar pela garagem. Agora tenho os homens atrás de mim. Vejo um homem dentro de um carro conversível, pronto para arrancar. Esse homem sai por outra saída, não precisa de senha. O carro é muito velho. Meto-me lá dentro e digo-lhe que me leve dali para fora. Ele arranca a fazer barulho com as rodas. Guia muito bem. Eu acho que ele participou em ralis. Mais à frente, já no mato, pergunta-me para onde vou. Conto-lhe estou a ser perseguida por um gang que me quer matar. Ele precisa de me esconder, ainda sou muito visível.
Ele fica branco de medo. A cara treme-lhe. Diz:
«Eu sou a pessoa que devia agredi-la. Eu ajudei o grupo contra si, não sabia quem você era.»
.Mas agora eu estou no mato. Estou fora do alcance dos homens. Eu conheço África. Penso:
«Que estupidez a deles. Pensarem em caçar-me no único território onde me é tão fácil escapar.»

Imagem: Bushland in South Africa [http://www.flickr.com/photos/96203093@N00/300329158/]

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