Noite de 6 para 7 de Abril de 1999 Cruzo-me com todas aquelas pessoas que vêm da direcção para onde eu caminho agora. Elas acabam de sair da Missa do Galo. Fico contente porque enchem, inesperadamente, a noite, tornando-a absolutamente segura. Penso:
“Se não fosse assim, as ruas estariam desertas e eu ia por aqui sozinha”.
As pessoas vão em grupos animados. Algumas estão bem vestidas. Riem e conversam. Abro caminho através delas porque vou para casa do meu pai. Atravesso o jardim, e vejo, através do vidro da porta, a minha mãe. Ela faz-me sinal com as mãos, o rosto fechado e duro, e diz, dessa forma inequívoca:
“Vai-te embora, dorme na rua, fica onde quiseres, aqui não voltas.”
Mas eu preciso de entrar. E sei que para entrar tenho que inventar uma mentira, e dizer o que não penso.
Então digo que vim da Missa do Galo e que só preciso de ir buscar algumas coisas, embora saiba que não tenho coisas nenhumas para trazer daquela casa.
Finalmente é assim que venço a sua resistência. Ela abre a porta e eu entro para o hall. A certa altura estou a fazer-lhe perguntas sobre a minha infância. Eu quero saber o que aconteceu. Ela diz que não aconteceu nada. Falo de um sonho que tive há uns anos, com um berço onde está um bebé. Esse bebé está horrivelmente sozinho. Sei que esse bebé sou eu acordei com avassaladora vontade de chorar. Ela está nervosa. Diz que isso não é possível. Pergunto-lhe:
“Vocês fizeram-me o quê?”
Porque apesar de ela dizer que nós éramos felizes e muito bem tratados, eu sei que isso não é verdade, porque aquele bebé do meu outro sonho está abandonado num quarto enorme.
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