Noite de 5 para 6 de Abril de 1999
Uma casa no campo. É uma casa muito grande, com muitas salas e muitos quartos. É a casa do padre da aldeia, mas também é a minha casa. Pelo menos temporariamente, vou ficar ali a viver. O padre vai à frente, para mostrar tudo. Na sua configuração a casa recorda-me um pouco casas na América Latina ou na Andaluzia, fechadas sobre a rua e abertas, por dentro, para pátios amplos, com jardins, como claustros. Assim as janelas dos quartos que dão para a rua estão no alto das paredes, e são pequenas e estreitas, enquanto que, e para o grande pátio interior, as portas rasgam-se de uma maneira ampla.
Por outro lado aquela construção também me recorda uma antiga escola primária.
A mobília é antiga e modesta, como nas casas de quintas. No entanto, parece-me ver, aqui e além, coisas de valor, ou pelos menos objectos a que eu ficaria facilmente ligada. Há também crucifixos, na parede. Um deles parece-me muito bonito.
O padre é meu amigo. É um rapaz novo. Vou andando com ele pela casa, e connosco vai outro homem, também novo. Às vezes, eu o padre ficamos de mãos agarradas e não nos queremos largar. Há uma cumplicidade amorosa entre nós. O padre entretanto diz que temos que nos despachar porque só podemos ver a casa com a luz do dia, uma vez que não há electricidade. Ou se havia, o gerador foi desligado. E agora as sombras vão caindo e eu não tenho a certeza de que vamos conseguir ver a casa toda.
Não me lembro porque estou ali.
Chegamos a um quarto pequeno, com uma cama de solteiro baixa, em madeira. Parece que vai ser ali o quarto da minha mãe, porque foi aquele que ela escolheu. Voltamos para trás pelo mesmo caminho, só que é outro. Passamos por um quarto e eu olho lá para dentro e vejo, sobre uma cama encostada à parede, um diabo em tamanho natural. É um boneco, claro, de cara muito pintada, com um fato preto até aos pés, e corninhos de diabo, e nariz curvado de diabo. Penso que é utilizado nas procissões. Perto há uma cara sobressalente. O diabo/boneco tem um ar triste. Continuamos a andar, mas eu fico perturbada. E penso:
“Mas que ideia, um boneco destes na casa de um padre”.
Mesmo como adereço religioso (para as procissões ou teatros) faz-me impressão que ele ali estivesse. E deu-me algum medo, quando olhei para dentro do quarto e o vi. O quarto estava iluminado com luz eléctrica.
O padre e eu temos um caso, ou estamos na iminência de isso acontecer. E penso que com o amigo dele também (embora neste momento e a recordar-me, parece-me que eram os dois a mesma pessoa).
Agora estou a passar por um corredor estreito, que está completamente cheio de pessoas. As pessoas estão numa festa. Há música e há pares a dançarem, no apertado corredor. Empurro-os para sair.
Eu vou sair para um espaço mais amplo.
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