NOITE DE 7 PARA 8 DE MARÇO
Percorro salas e corredores de uma casa muito grande. Depois subo escadas com a sensação de que me quero esconder de uma pessoa muito aborrecida que me rodeia de atenções, mas com quem eu não quero perder tempo. E essa pessoa é uma das minhas aias e vive no palácio.
Estou a subir um lance de escadas, de madeira, e ouço a voz a perguntar:
«Quem está aí?»
Estou muito alegre. Continuo a subir as escadas, agora a correr. Respondo:
«Sou eu» -- e digo o meu nome próprio. E estou contente por correr tanto, porque agora estou no último andar. E entro numa sala ampla que dá para um terraço, e salto da janela para o terraço. É um terraço grande, irregular, bonito, com vasos de plantar e canteiros, e pequenos muros a marcar separações. São muros do próprio chão, como se o terraço tivesse sido o aproveitamento de um telhado plano.
Há muita luz. Dali vêm-se outros terraços, alguns ainda mais bonitos. De certa forma sinto-me como se estivessemos em Paris, de onde vim há poucos dias.
Um grupo de pessoas junta-se a mim. Fico aborrecida. É um grupo de mulheres idosas, solícitas e barulhentas. Instalam-se à minha volta em pequenas mesas, e prepararam-se para o chá. Delicadamente tento convencê-las a não ficarem ali. Depois lembro-me que tenho poder. Uso o meu poder para lhes dizer que quero estar só.
«Estou a fazer meditação» -- digo. E empurro-os para dentro da sala, pela janela de onde saímos. Vão-se embora, parecem um bando de crianças velhas. Uma delas diz, azeda:
«Está bem, mas vais pagar o bolo».
Fico ligeiramente incomodada com a forma como ela me tratou, mas sinto um enorme alívio por me ver livre delas. No terraço há um homem. É um rapaz. É conhecido delas. Reparo nele, olho-o disfarçadamente. Fico desapontada por perceber que ele nem olha para mim.
[...]
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