domingo, 22 de novembro de 2009

Eu, o motorista de táxi, o Conciliador e o seu mapa

NOITE DE 13 PARA 14 DE MARÇO DE 1998

O motorista do táxi enganou-se no percurso, ou então é essa a desculpa que dá para dizer que não me pode deixar à porta do meu destino. Explica que não pode fazer inversão de marcha, porque é uma volta muito grande, e tenta convencer-me a ficar ali, num lugar que é um descampado. Diz que estou muito perto do hotel para onde quero ir, e que é mais rápido assim. Estamos numa espécie de porto, mas tão grande que não se vê o mar. É um lugar em construção, como a Expo. Mas não se vêm pessoas, nem máquinas a trabalhar. Zango-me e digo que não admito ficar ali.
À medida que o carro vai avançado mais me convenço de que tinha razão. As ruas, largas e muito compridas, são ladeadas de armazéns e de obras. Se eu tivesse ficado onde ele queria deixar-me teria perdido muito tempo. E se calhar acabava por me perder também.
Então ele diz que não tem a certeza do lugar para onde vamos. Pergunto-lhe porque esteve a falar para a central e não aproveitou para tirar dúvidas sobre o percurso. Digo:
«Não vou pagar esta corrida, não tenho culpa da sua incompetência. Vou fazer queixa de si se não me deixar à porta.»
Há outra pessoa no táxi. É o Conciliador. Então aparece um mapa. Nesse mapa vê-se tudo com muita clareza. Mas é preciso adequar o mapa ao lugar onde estamos, para descodificar o percurso sem se perder mais tempo.

Depois estou com a mãe da Alexandra, em casa da Alexandra. E é também a minha casa. Há um programa de televisão, que é uma demonstração de fenómenos paranormais. Agora, à nossa frente, numa espécie de estúdio, estão duas meninas. Têm seis anos. Uma é má, a outra é boa. A boa não pode dar a mão à má. A má convence-a, porque sabe o que quer, e a boa deixa-se levar. As pessoas que estão a assistir percebem, tarde de mais, o que se vai passar. As meninas estão uma ao lado da outra, e a má estende os dedos para a boa, e diz-lhe: vá, estende-me a ponta dos teus dedos. Tem um ar muito acordado e sorri. A boa parece meia adormecida, um pouco apatetada. As meninas entrelaçam as mãos. Alguém diz:
«Separem-nas!»
Mas é tarde de mais. Há um clarão, e uma espécie de choque eléctrico que se repercute no ar, e elas desaparecem ao mesmo tempo. Alguém diz:
«Agora vou ter tanto trabalho outra vez a procurá-las no mundo astral.»

E eu estou no hospital. E só lá vou ficar por mais três dias. Alguém vem dizer-me o que posso comer, e são coisas deliciosas.  Penso: «se quiser comer isto tudo não me chegam os dias que ainda cá vou ficar».

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