Uma viagem à China. Estou com a Alexandra. Às vezes estou com outras pessoas. Apanhamos um comboio, não tem portas que se fecham, é um comboio parecido com os antigos eléctricos do princípio do século XX. É um comboio pequeno, e temos de mudar várias vezes para seguirmos o nosso percurso. Os comboios são cada vez mais pequenos. Numa das paragens saímos, porque não temos bem a certeza de qual devemos apanhar a seguir. E vamos conhecer melhor a China, embrenhando-nos pelo território. Há uma vilazinha de ruas íngremes, bem iluminada. Um grupo de crianças desce as ruas, cantando. Estão vestidos e pintados como figurantes de um filme, ou como atracções turísticas. Penso: gostava de conhecer uma China mais autêntica. Afinal é como na Europa, um jogo para turistas. Nada disto é autêntico.
E depois estamos a subir pelas escadas gastas e milenares da Grande Muralha, e há montanhas desertas a toda a volta, e os degraus são altos e estão esboroados dos séculos. Atrás de nós vêm dois rapazes, dois estrangeiros como nós. Vestidos de caqui, com mochilas. As pernas pesam, cada passo custa, como se os degraus aumentassem de tamanho. Sentamo-nos um pouco a olhar as estrelas. Encosto-me para trás, e olho longamente para o céu. É o céu de outro lado do mundo. Tem estrelas que nunca vi. É um céu diferente. E as estrelas unem-se pelos seus raios de luz, e fazem desenhos lindíssimos, como começam a ficar cada vez mais nítidos à medida que vou olhado. E as constelações desenham dragões no céu da China. E eu digo:
-- Alexandra vê! O céu da Europa tem ursos, sagitários, caçadores, peixes, o céu da China tem dragões que cospem luz, e eu consigo vê-los, e no céu da Europa eu já não consigo ver os peixes, os caçadores e as ursas.
Mas depois é preciso recomeçar a viagem.
Depois estamos numa pequena vila, muitíssimo iluminada, de algum modo também um cenário de turismo, com muitos cafés e restaurantes chineses. Quero comer mas tenho medo de ter nojo, porque as coisas de comer na China são uma grande nojice. E pergunto á Alexandra pelos tais rapazes que vinham atrás de nós e que depois nos passaram à frente, porque talvez soubessem alguma coisa daquela terra, e ela respondeu «estás doida? eles ...» e já não me lembro das palavras mas o sentido é que eles eram uma espécie de neo-fricks, que viam esoterismo e cabalas em todos os sinais, e eram meios destravados, e muito pobres, porque estavam a contar tostões.
Seja como for entramos no restaurante chinês, e era um restaurante todo aberto sobre a rua, com um balcão enorme dentro do qual estava um chinês a fazer comida chinesa. Mas também há coisas europeias, embrulhadas. E como tenho medo que me dêm lagartixas disfarçadas de qualquer coisa resolvo pedir um bolo. Mas quero um bolo embrulhado porque podem andar moscas a passar por cima dos outros. E quero um bolicao, mas estão todos mais ou menos abertos. E não me decido. Então vejo no centro do restaurante uma barraquinha de cachorros quentes, com um homem que não é chinês mas vive na China há tanto tempo que já é porco e tudo. Tem as mãos embodegadas. E fala inglês. E é um bocado gordo. E pago-lhe os cachorros quentes que vêm com batatas fritas palha, mas penso, que chatice, com esta história das viagens temos que comer tanta coisa que faz engordar.
Depois a Alexandra chama-me a atenção e voltamos a entrar no café, e agora eu vejo outro espaço, e é lindíssimo, porque tem muitas coisas de arte, objectos antigos, uma luz suave, muito suave, e há uma marioneta quase à entrada, e é um boneco de madeira com um ar perturbante. E eu não tinha visto nada da primeira vez.
E estamos perto da estação de comboio. E é preciso ir apanhar o comboio.
Imagem: http://br.geocities.com/mestrejair/china.htm
Mas depois é preciso recomeçar a viagem.
Depois estamos numa pequena vila, muitíssimo iluminada, de algum modo também um cenário de turismo, com muitos cafés e restaurantes chineses. Quero comer mas tenho medo de ter nojo, porque as coisas de comer na China são uma grande nojice. E pergunto á Alexandra pelos tais rapazes que vinham atrás de nós e que depois nos passaram à frente, porque talvez soubessem alguma coisa daquela terra, e ela respondeu «estás doida? eles ...» e já não me lembro das palavras mas o sentido é que eles eram uma espécie de neo-fricks, que viam esoterismo e cabalas em todos os sinais, e eram meios destravados, e muito pobres, porque estavam a contar tostões.
Seja como for entramos no restaurante chinês, e era um restaurante todo aberto sobre a rua, com um balcão enorme dentro do qual estava um chinês a fazer comida chinesa. Mas também há coisas europeias, embrulhadas. E como tenho medo que me dêm lagartixas disfarçadas de qualquer coisa resolvo pedir um bolo. Mas quero um bolo embrulhado porque podem andar moscas a passar por cima dos outros. E quero um bolicao, mas estão todos mais ou menos abertos. E não me decido. Então vejo no centro do restaurante uma barraquinha de cachorros quentes, com um homem que não é chinês mas vive na China há tanto tempo que já é porco e tudo. Tem as mãos embodegadas. E fala inglês. E é um bocado gordo. E pago-lhe os cachorros quentes que vêm com batatas fritas palha, mas penso, que chatice, com esta história das viagens temos que comer tanta coisa que faz engordar.
Depois a Alexandra chama-me a atenção e voltamos a entrar no café, e agora eu vejo outro espaço, e é lindíssimo, porque tem muitas coisas de arte, objectos antigos, uma luz suave, muito suave, e há uma marioneta quase à entrada, e é um boneco de madeira com um ar perturbante. E eu não tinha visto nada da primeira vez.
E estamos perto da estação de comboio. E é preciso ir apanhar o comboio.
Imagem: http://br.geocities.com/mestrejair/china.htm