NOITE DE 6 PARA 7 DE MARÇO DE 1997
Um prédio alto. Estou no último andar. Há muita gente. Precisamos de apanhar o elevador para descer. Ali, já fizemos o que tínhamos que fazer. Há vários elevadores. Está toda a gente com pressa. Aproximo-me do que acaba de parar mas passa muita gente à minha frente e o elevador fica tão cheio que tenho medo de entrar.
As portas fecham-se. O chão, todo ele, começa a tremer. É um tremor de terra. Precisamos de sair dali, mas não podemos ir de elevador. Agora não pdemos ir de elevador mesmo que houvesse um, porque ainda é mais perigoso.
E aconteceu um cataclismo em toda a Terra. Um apocalipse. Agora estamos num pedaço de terra seca, rodeados de extensos lençóis de água. O velho mundo foi submerso. Poucas pessoas escaparam. E tudo o que antigamente tinha valor agora não vale nada. O dinheiro, por exemplo. Percebo que não tenho nenhum, mas também que valor atribuir-lhe agora? Fico com pena por causa dos livros. Parece que salvei um. [...] Mas que importância tem isso agora? Mas tenho pena à mesma.Tenho os meus dois filhos mais novos comigo. Sei que estão comigo. Mas não sei da Marta e do Nuno. E sei que eles se salvaram, e andam a sobrevoar a terra, mas agora já não há referências de nada. Penso: como é que me vão encontrar? Sem telefones, sem mapas. Porque agora a terra é geograficamente diferente do que era. E isso angustia-me. Depois é preciso começar tudo de novo. Há algumas pessoas connosco. E eu penso: "É tudo tão estranho. Tudo tão novo."
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