domingo, 15 de abril de 2007

Como um gato sobre o muro

NOITE DE 15 PARA 16 DE MARÇO DE 1997
Estou na rua ao lado da casa do meu pai. Não vim de lá, nem vou para lá. Estou só a andar ali. A certa altura passo para cima do muro de granito que delimita os jardins da casa que liga com o jardim da nossa casa. O muro é estreito. Penso: se fosse gato andava bem aqui em cima. Sinto-me no corpo de um gato. Sinto as patas aveludadas do gato que têm umas almofadinhas para amortecer as asperezas e até os pedaços de vidro que as pessoas colam nos muros para não serem assaltadas, penso. Como um gato, ando até ao fim do muro. Sem nunca me enganar. Depois estou num canto do jardim. Ali, sob a terra húmida, está alguém ou alguma coisa enterrada.
Levo um ovo cozido e cebola crua, às rodelas. Acho que é para deitar em cima da terra. Em vez disso, como as duas coisas. Os anéis da cebola e o ovo, ás dentadas.

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