Tenho de fugir sem pôr os pés no chão. Estou numa grande sala de baile, com lianas penduradas do tecto, a várias alturas. Agarro-me e vou passando de umas para as outras, dando balanço com o corpo e projectando-me sempre para diante. Tenho de fugir de um homem que me persegue. Faço-o com dificuldade. Então encontro um casal de meia-idade a quem peço abrigo em sua casa. É uma casa de passagem. Lá dentro há uma sala e um quarto. Eles acolhem-me e eu vou-me esconder no quarto do fundo.
Depois tocam à campainha, e sei logo que é ELE. Peço ao casal que diga ao homem que eu não estou ali, nem sabem de mim. Explico-lhes que devem ter muito cuidado porque ele é inteligentíssimo. Escondo-me no quarto, que tem uma porta que dá, também, para a rua. Para as traseiras da casa. Na porta há um olho-de-peixe.
Ouço, mal, a conversa entre o casal meu amigo e o homem que me persegue. Ouço a porta da rua bater e sei que ele se foi embora. Então ponho-me a espreitar pelo olho-de-peixe para o ver ir-se embora também deste lado da casa. Espreito e vejo só um corredor vazio ligeiramente deformado pela lente.
Afasto-me. Volto a olhar. Nada. Afasto-me e aproximo-me de novo, para ter a certeza de que ele se vai mesmo embora. E quando encosto, de novo, o meu olho ao olho-de-peixe sinto uma espécie de descarga eléctrica, um susto, um terror, porque, no mesmo instante, o meu perseguidor faz o mesmo do outro lado.
Num salto, enrolome no chão, junto à porta, e, a tremer, fico à espera que ele não tenha detectado a minha presença. Mas sei que, apesar de estar agachada junto da porta, não posso movimentar-me pelo quarto porque ele me detecta. E sei que há maneiras de ele conseguir espreitar, através do olho-de-peixe, e conseguir mesmo ver-me no ponto em que estou, embora não o faça por métodos habituais, até porque aquele dispositivo, em princípio, só serve para olhar de dentro para fora e não o contrário. Mas ELE consegue. Eu sei que ele consegue fazê-lo.
Ouço a sua respiração através da porta. Uma respiração pesada, de animal selvagem. Sei que ele nunca vai sair dali, nunca vai deixar de me perseguir, só vai parar quando me apanhar.
Tremo e aguardo.
Então, de repente, tomo uma decisão de instinto. Levanto-me e abro a porta ao meu inimigo, à fera que me persegue, ao homem ameaçador. E ele entra e eu atiro-me para ele e fundimo-nos num intensíssimo abraço.
Ouço, mal, a conversa entre o casal meu amigo e o homem que me persegue. Ouço a porta da rua bater e sei que ele se foi embora. Então ponho-me a espreitar pelo olho-de-peixe para o ver ir-se embora também deste lado da casa. Espreito e vejo só um corredor vazio ligeiramente deformado pela lente.
Afasto-me. Volto a olhar. Nada. Afasto-me e aproximo-me de novo, para ter a certeza de que ele se vai mesmo embora. E quando encosto, de novo, o meu olho ao olho-de-peixe sinto uma espécie de descarga eléctrica, um susto, um terror, porque, no mesmo instante, o meu perseguidor faz o mesmo do outro lado.
Num salto, enrolome no chão, junto à porta, e, a tremer, fico à espera que ele não tenha detectado a minha presença. Mas sei que, apesar de estar agachada junto da porta, não posso movimentar-me pelo quarto porque ele me detecta. E sei que há maneiras de ele conseguir espreitar, através do olho-de-peixe, e conseguir mesmo ver-me no ponto em que estou, embora não o faça por métodos habituais, até porque aquele dispositivo, em princípio, só serve para olhar de dentro para fora e não o contrário. Mas ELE consegue. Eu sei que ele consegue fazê-lo.
Ouço a sua respiração através da porta. Uma respiração pesada, de animal selvagem. Sei que ele nunca vai sair dali, nunca vai deixar de me perseguir, só vai parar quando me apanhar.
Tremo e aguardo.
Então, de repente, tomo uma decisão de instinto. Levanto-me e abro a porta ao meu inimigo, à fera que me persegue, ao homem ameaçador. E ele entra e eu atiro-me para ele e fundimo-nos num intensíssimo abraço.
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