16 PARA 17 DE NOVEMBRO DE 1995
Ando num quintal de uma quinta, meio às escuras, a limpar, com pedaços de algodão, manchas de sangue menstrual no empedrado do terraço, mas já não vejo bem onde estão todas. Depois vou a um encontro com Portugueses. São muitos, rostos anónimos que me recordam as figuras dos Painéis. Comparo estes portugueses, baixos, entroncados, fortes, de olhar franco, nobre e leal, rude mas sensível, com outros arquétipos, e percebo que este é mesmo o meu povo. De algum modo é um povo exilado. Só vejo homens e rapazes.
Depois há uns quartos, umas dispensas, onde as pessoas vão dormir, enroladas como se fossem crisálidas. Põem-nas numas prateleiras, umas por cima das outras, e faz-me impressão. Mas a mulher que toma conta da dispensa explica-me que aquele processo é bom, e as pessoas não se incomodam, porque entre umas e outras prateleiras há mesas iluminadas por candeeiros pequenos, com espaço e luz suficiente para as pessoas se sentarem a escrever.
Depois fecho-me na mesma dispensa, mas sozinha. Com uma mesa onde se escreve. Faço isso sozinha. Depois vou com a Tita omprar umas botas. Só que não há, à vista, para o meu tamanho, e estou cheia de pressa. Mexo nas botas e nos sapatos expostos, mas não gosto de nada. A empregada está ocupada a atender outras pessoas.
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