quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

O corno do unicórnio brilha na escuridão do sangue

NOITE DE 15 PARA 16 DE NOVEMBRO DE 1995
Estou com a Su e o V. morreu. Sentimos uma grande alegria porque comentamos uma com a outra que agora, e finalmente, o V. pode voltar a ser, inteiramente, o que era, e é muito forte aquela noção de que, de algum modo, ele recuperou o ser que era antes da doença, embora num estádio superior de desenvolvimento. Mas, e ao mesmo tempo, há uma saudade muito grande: “Tu ouves-nos e vês-nos, dá-nos um sinal da tua presença” – pedimos, mas só sentimos aquele calor invisível da sua energia radiante. É um sonho muito mais vasto de que já não recordo os pormenores.
[Nesta altura a Su teve, também, um sonho muito estranho com o V. Estava com ele num quarto e as vísceras escorriam-lhe do ventre dele, e ela tentava organizar aquele caos de entranhas e sangue, muitíssimo calma e decidida no meio do caos. Ali, ela sabia, houvera um crime medonho. E no meio deste caos, da sujeira, e do corpo morto, da cabeça dele, saía como que um corno de unicórnio, inconcebivelmente luminoso e iridiscente.)

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