sábado, 20 de janeiro de 2007

Três mulheres e um rato


NOITE DE 8 PARA 9 DE FEVEREIRO DE 1996
Duas ou três mulheres perseguem um rato, gritando. Estamos em casa do Zé M.N., onde voltei para buscar um guião do programa. Eu estou com pressa e quero demorar pouco tempo. Depois o telefone toca e acontem muitas coisas, e vou ficando. Estamos na cozinha a ouvir os gritos das mulheres pela casa toda. Vemo-las passar, na sua correria, de um modo quase subliminar. O rato, que já tinha saído, volta a entrar em casa. Elas perseguem-no com a vassoura, mas falham os golpes. Estou enojada.
De uma das vezes que o rato passa por mim, a correr. Levanto as pernas, para ele não se enredar nos meus pés, e deixo-o passar, sem entender o histerismo provocado pelo sua presença. Nessa altura olho para o rato que está num canto da cozinha, à entrada de um buraco salvador, sem contudo se enfiar dentro dele. Ele volta-se para mim, para nós, porque entretanto a cozinha encheu-se de gente, e grita, guincha, pondo as patas acima da cabeça, numa mímica quase humana, de desespero e de raiva, como quem diz, estou exausto e cheio de raiva e não vou fugir mais.
Pergunto: “porque querem matar o rato? Fazer uma desinfestação à casa ou ao quarteirão, tudo bem, mas perseguir um animal sózinho, numa caçada tão desigual é desumano, é errado.”
Depois vejo, como se fosse num filme, os planos dos olhos das pessoas a olhar na direção do rato, e todos, em silêncio, deixam o animal partir, e afinal é uma fémea, muito digna, com umas orelhas espetadas como se fosse um gato (?), com uma cria agarrada às suas costas, e estamos todos muito espantados, e ela mete-se, finalmente, no seu buraco próprio.
Dados possíveis de levar em conta. Entramos no Ano do Rato.

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