Julho de 1996 (s/dia)
É um sonho com um filho, penso que o Lula. A história consiste nisto: ele, ao dizer a verdade não sei a propósito de quê, condena-me à morte. Tudo se passa num ambiente extremamente tranquilo, como se fosse absolutamente normal este tipo de procedimentos. É como se estivessemos a viver agora, e simultâneamente noutro tempo anterior, quando havia Inquisição.
Toda a gente pressiona o Lula a mentir, para me salvar. Ele recusa-se. Eu não tenho coragem de lhe pedir isso. Penso. Tantas vezes lhe chamei a atenção sobre o erro da mentira, não vou agora convê-lo a mentir só porque agora me convém. O surreal é que o castigo é totalmente desproporcionado em relação ao acto, que é tão irrelevante que nem me recordo do conteúdo. O Inquisidor é meu amigo. Não pode abertamente incitar-me à mentira, mas convida-me a ir, de novo, com ele, confirmar as declarações do meu filho, antes que o processo siga os trâmites irrevogáveis dos tribunais.
O Lula está no quarto com amigos a jogar cartas. O quarto tem computador, está desarrumado, alguns rapazes estão estendidos em cima de camas a ler, outros no chão a jogar.
O Lula fica contrariadíssimo. Os amigos ainda vão dizer qualquer coisa, mas eu interrompo-os e peço-lhes que saiam. Ele fica mais tranquilo. Ficamos só os três, eu, ele e o Inquisidor. Sento-me ao pé dele, e ele encosta-se a mim como quando era pequeno. Deita a cabeça no meu colo e pergunta: e agora o que faço? Respondo-lhe, ao ouvido: podes mentir ou podes continuar a dizer a verdade. Se mentires eu salvo-me. Mas é contigo.
O Inquisidor faz de conta que não percebe o nosso diálogo que foi rapidíssimo e em voz baixa.
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