Noite de 14 para 15 Dezembro de 1996
Um pequeno quiosque circundado por um cordão de monumento. Parece uma antiga cabine telefónica preservada para a curiosidade do futuro. O telefone não funciona. Ergo o cordão que a protege simbolicamente, porque é mais fácil passar por baixo do que saltar por cima deste frágil obstáculo. A Tita está comigo e eu continuo a segurá-lo para ela passar. Então, atrás de nós, a estrutura frágil, de madeira, da cabine, oscila e quase cai. Fica tombada num equilíbrio instável e eu ouço as vozes risonhas de uns turistas que andam por ali a fotografar curiosidades e que me exortam a não deitar tudo ao chão. Pelo menos enquanto as fotografias não estiveram completas. Fico embaraçada e quero ir logo embora daquele local, mas a Tita fica a falar com eles e não se despacha.
Então avanço até um tanque de lavar a roupa quase em frente, do outro lado da estrada. E vejo que a superfície das águas agitar-se e percebo a sombra de um pequeno réptil que assoma à superfície. Retiro a mão que avançava para a água. A Tita chega e, com um dedo, aflora o ponto onde emerge a cabeça do réptil e eu digo-lhe que tenha cuidado porque parece um crocodilo.
E é um crocodilo que acaba de emergir, agora já em ponto grande. Recuo ainda mais assustada, mas a Tita continua ali, ao lado, a mão quase a afagar a cabeça do monstro que é albino e manchado e abre a boca enorme de onde os dentes parecem ter sido arrancados porque só se vêm umas lascas de osso.
E o crocodilo abre a boca inútil como se bocejasse. Mas logo a água se agita de novo com outro crocodilo que começa a emergir. Mas parece que aquela raça de crocodilos não tem dentes. Já não tem dentes.
E depois sei que estou grávida. Vou ter mais dois filhos. Lembro-me então dos outros sonhos em que sonho com essas gravidezes inesperadas e totalmente inoportunas. Só que agora percebo que esta é uma decisão minha que só tem a ver comigo. Sei que preparei tudo isto, removi obstáculos, e determinei que o meu ventre estivesse pronto para tornar possível consentir neste destino. E penso: “desta vez não sou apanhada de surpresa. Fui eu que determinei isto porque é assim que deve ser.”
E depois há uma mulher que cai das escadas com tanta força e tanto barulho que corro para a ajudar a tempo de ver que ela não está mais do que atordoada e aflita e então acordo.
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