OUTRO ANO: 1997
NOITE DE 10 PARA 11 DE JANEIRO DE 1997
Por uma razão que ignoro sou condenada, juntamente com um rapaz brasileiro. Eu não cometi nenhum crime, ele sim. A pena que lhe dão a ele é de morte. A mim não sabem, mas estão a deliberar de modo que, não sendo a pena máxima, seja pesada. Estou tão indignada pela injustiça que exijo que me condenem à pena capital. É meu direito reivindicá-la. Eu sei que isso cria um grande constragimento nos orgão de cúpula judiciais.
Por uma razão que ignoro sou condenada, juntamente com um rapaz brasileiro. Eu não cometi nenhum crime, ele sim. A pena que lhe dão a ele é de morte. A mim não sabem, mas estão a deliberar de modo que, não sendo a pena máxima, seja pesada. Estou tão indignada pela injustiça que exijo que me condenem à pena capital. É meu direito reivindicá-la. Eu sei que isso cria um grande constragimento nos orgão de cúpula judiciais.
Movimento-me numa cidade, ou num território, ou seja lá o que for, que é uma casa de muitos andares. Em liberdade. Num dos quartos está o tal rapaz brasileiro. O padre Pedro anda por lá.
Então, e de repente, é véspera de minha morte. Tomo consciência disso de uma forma avassaladora. Penso: agora tenho de escolher a melhor forma de morrer.
Visualizo-as a todas: enforcamento. Vejo-me pendurada por uma corda diante de meia dúzia de pessoas sentadas numa sala como se fosse uma sala de aulas. Acho ignominioso que a minha morte seja assim, e exijo, na projecção mental, que cubram o meu imaginado corpo com capuz até aos pés. Mas assim baloiço imaginariamente com falta de ar, mesmo antes de morrer. Desisto do enforcamento.
Passo ao fuzilamento. Vejo-me diante de um pelotão que atira sobre mim. E surpreende-me a dor que sinto. As balas traçam no meu corpo dores ardentes. E é tão estúpido morrer assim.
Visualizo o gaz. Penso: assim é rápido e indolor. Mas quando me visualizo amarrada naquela cadeira, e a ampola larga o veneno, sinto um pânico horrível e penso que não posso, não devo morrer com aquela sensação pavorosa de medo e de claustrofobia.
E percebo tudo: estou demasiado saudável para poder morrer. É anormal deixar-me matar assim. Ando pelos corredores com este pensamento a queimar-me.
Tomo a decisão de fugir. Urgentemente. Os conceitos, as palavras, que importa tudo isso diante do absurdo da minha morte no dia seguinte, por uma falta que não cometi?
Chamo a Tita. Ela sai de uma igreja onde estava a assistir à missa rezada pelo padre Pedro, uma capela de Centro Comercial, e um pouco atrás dela vem a Ninor, velha e curvada, mas indiferente ou inconsciente em relação ao que se passa. Penso: "lá anda ela a fazer de conta que reza pelos filhos."
Então, e de repente, é véspera de minha morte. Tomo consciência disso de uma forma avassaladora. Penso: agora tenho de escolher a melhor forma de morrer.
Visualizo-as a todas: enforcamento. Vejo-me pendurada por uma corda diante de meia dúzia de pessoas sentadas numa sala como se fosse uma sala de aulas. Acho ignominioso que a minha morte seja assim, e exijo, na projecção mental, que cubram o meu imaginado corpo com capuz até aos pés. Mas assim baloiço imaginariamente com falta de ar, mesmo antes de morrer. Desisto do enforcamento.
Passo ao fuzilamento. Vejo-me diante de um pelotão que atira sobre mim. E surpreende-me a dor que sinto. As balas traçam no meu corpo dores ardentes. E é tão estúpido morrer assim.
Visualizo o gaz. Penso: assim é rápido e indolor. Mas quando me visualizo amarrada naquela cadeira, e a ampola larga o veneno, sinto um pânico horrível e penso que não posso, não devo morrer com aquela sensação pavorosa de medo e de claustrofobia.
E percebo tudo: estou demasiado saudável para poder morrer. É anormal deixar-me matar assim. Ando pelos corredores com este pensamento a queimar-me.
Tomo a decisão de fugir. Urgentemente. Os conceitos, as palavras, que importa tudo isso diante do absurdo da minha morte no dia seguinte, por uma falta que não cometi?
Chamo a Tita. Ela sai de uma igreja onde estava a assistir à missa rezada pelo padre Pedro, uma capela de Centro Comercial, e um pouco atrás dela vem a Ninor, velha e curvada, mas indiferente ou inconsciente em relação ao que se passa. Penso: "lá anda ela a fazer de conta que reza pelos filhos."
Chamo a Tita à parte. Peço-lhe que meta dentro da mochila do Nuno, aquela que ele me empresta de vez em quando, os básicos da minha partida. Roupa interior, os meus cremes, uma água-de-colónia, pouco mais. Falamos em sussurros. Dinheiro não preciso, tenho o suficiente. Próximo, o padre Pedro está no quarto do brasileiro, suponho que a prepará-lo para a morte imediata. Mas não há nenhuma tensão, nenhum drama, nenhum desgosto no ar.
Eu vou fugir para muito próximo, que estranho. E não é por terra que vou partir. É por mar. Ou pelo Sul ou por Ocidente. Sei que há uma ilha muito próximo de terra, uma coisa tão próxima que se atravessa a vau. Tem de ser assim para eu continuar a cumprir o meu Sonho na vida de acordada. Vou para outra terra tem outra jurisdição. Ali estou salva.
Imagem: http://www.jeffpritchard.com/index.html
Eu vou fugir para muito próximo, que estranho. E não é por terra que vou partir. É por mar. Ou pelo Sul ou por Ocidente. Sei que há uma ilha muito próximo de terra, uma coisa tão próxima que se atravessa a vau. Tem de ser assim para eu continuar a cumprir o meu Sonho na vida de acordada. Vou para outra terra tem outra jurisdição. Ali estou salva.
Imagem: http://www.jeffpritchard.com/index.html
Sem comentários:
Enviar um comentário