Uma sala ampliada por espelhos a toda a volta. Estou no centro. Alguém me diz que há quatro direcções, quatro caminhos. Os espelhos indicam cada um o seu, são quatro, como quatro são as paredes. É assustador olhar e ver tudo reflectido até ao infinito. Desvio o olhar do jogo dos espelhos entre si. Há estofos vermelhos e móveis pesados de madeira, e lustres e candeeiros. Os espelhos abrem-se, melhor, é como se para mim eles não fossem uma barreira. Eu cruzo os vários espaços. Alguém me tinha dito que o meu lugar era na realidade, no local onde estava, mas agora eu já não sei onde mora a realidade, nem em qual dos quatro mundos me encontro, porque são todos iguais, e eu não sinto impedimentos quando cruzo as várias direcções, como se os espelhos só travassem a passagem a outras pessoas.
E agora ando pelas ruas, atravesso-as, é um mundo igual, cruzo-me com pessoas, pergunto-me:
"É o mesmo mundo onde estava antes, ou é algum dos mundos dos espelhos?"
E sei que não posso saber a resposta. De modo que agora tenho medo de não encontrar o caminho de volta, porque nem sei se há caminho de volta, como nas histórias de mundos paralelos. Uma vez atravessada a barreira, voltar atrás é impossível, porque deixa de haver um "atrás", na infinidade de caminhos que se cruzam e entrelaçam.
Mas a minha maior angústia é cruzar-me com o meu duplo, porque se os espelhos reflectem toda a realidade, em cada um daqueles mundos há uma de mim. E diz-se que encontrar o duplo é sinal de morte, pelo menos para um deles. Li, antes de adormecer, aliás na noite anterior, num livro do Corto Maltese.
Mas a minha maior angústia é cruzar-me com o meu duplo, porque se os espelhos reflectem toda a realidade, em cada um daqueles mundos há uma de mim. E diz-se que encontrar o duplo é sinal de morte, pelo menos para um deles. Li, antes de adormecer, aliás na noite anterior, num livro do Corto Maltese.
E agora estou outra vez a sonhar com o Joshua, não o vejo bem, mas ele está comigo, e eu tenho uma criança ao colo, e vamos à praia só que eu tenho de levar várias coisas e ele não percebe porque razão uma ida à praia implica tanto saco, e apetrecho. Eu revejo a lista das coisas que preciso, e concordo que é um exagero, mas é preciso creme para o bebé, e toalhas, e escova para o cabelo, e secador (imagine-se!) e fato de banho, e já nem sei que mais, e o Joshua está impaciente, e eu resolvo fazer-lhe a vontade, e digo, já não sei para quem, "para ele é simples, mete-se dentro de água e sai e está tudo bem, mas quando ele me vir toda desgrenhada porque nem sequer levei uma escova, é capaz de não gostar muito."
Mas não estou mal disposta nem irritada. Estou mesmo muito tranquila. Como se soubesse que no fim vou acabar por fazer a minha vontade, dando a impressão que estou a fazer a vontade dele.
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