quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Dois ovos no ninho das cegonhas

NOITE DE 12 PARA 13 DE JULHO DE 1997
O Joshua perde um dente, curva-se para o chão empoeirado à procura dele. Agora reparo que lhe faltam alguns dentes—penso que são da frente—e acho estranho que ele ande de gatas no chão para encontrar o dente que lhe caiu quando me estava a beijar. Estávamos a combinar um encontro para o futuro.
E agora estou a guiar, vou para uma terra de província onde vou começar o meu novo projecto profissional. E depois estou a dançar ballet, nem sabia que dominava a técnica!É maravilhoso, o meu corpo estremece do esforço e da vibração, porque estou em pontas, a rodopiar, e levanto uma perna, e o meu vestido é vermelho, comprido. Mas não é nenhum espectáculo, sou eu que me estou a divertir. Depois tento dar cambalhotas. A pessoa que está comigo pergunta se faz parte do ballet, e eu digo que não. A seguir quero quero fazer o pino, mas isso já é excessivo, ainda por cima estamos no corredor da Rádio.
E ontem ou há três dias, sonhei com um ninho de cegonhas, e lá dentro tinha dois ovos, e o ninho estava muito alto mas eu baixava o longuíssimo tronco, e esse longuíssimo tronco curvava-se até mim, e eu espreitava, e o ninho era feito como os ninhos são feitos, com palhas e tronquinhos e restos de coisas, e no chão, para o tornar mais confortável, ou quente, havia folhas de jornal, amachucadas para o forrar muito bem, misturadas com os outros materiais, assim à maneira dos ninhos. E eu larguei o ninho e ele subiu, mas em vez de subir disparado ou catapultado no tronco liberto da tensão de eu o segurar—como eu, por um momento cheguei a temer, uma vez que o larguei bruscamente—subiu como se flutuasse, lentamente, de forma a não abanar a estrutura do ninho e não prejudicar os ovos, os dois ovos.
Depois fica lá em cima, muito lá em cima, agitado, suavemente, quase subliminarmente, pela brisa da tarde.

M. (análise radiostésica) diz: "novas formas de expressão, catalizar novas estruturas".

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