NOITE DE 15 PARA 16 DE SETEMBRO DE 1997
Um homem está a ser enforcado junto ao mar. O mar está em segundo plano, é uma linha de água ao fundo, nem se vê todo porque a imagem está enquadrada de forma a privilegiar a assembleia de homens que rodeia a forca onde está a ser enforcado o criminoso. E os homens que assistem a este espectáculo são umas duas dezenas. Têm um aspecto muito normal. A forca é rudimentar, e o processo não está a correr bem. O homem demora muito tempo a morrer, contorce-se, leva as mãos ao pescoço, tem falta de ar e sofre horrivelmente.
Alguém, na assistência, comenta que se deveria utilizar outro método, talvez uma injecção letal, por exemplo, porque aquilo é uma barbaridade. Penso: "Este homem para dizer estas coisas já deve ter vivido nos Estados Unidos". O carrasco está a suar. Já ergueu o corpo umas duas ou três vezes para o deixar cair bruscamente. [...] Alguém comenta que aquele condenado vai demorar seis minutos a morrer. Penso: «é uma eternidade, para quem sofre assim!».
Depois retiram o homem da forca, e estendem-no na areia. É novo, deve ter trinta, trinta e poucos anos. Olho para a mão direita dele, estendida e semi dobrada na areia. É branca, tem dedos longos.
Depois o homem mexe-se, porque afinal não moreu. E ergue-se e começa a correr pela areia. Todos começam a fazer um círculo à volta dele, e ele tenta entrar nos carros que estacionaram perto da praia, mas os carros já estão cheios com famílias. O cerco aperta-se. Ele entra num carro que parece vazio, e é uma carrinha, e a pessoa que está lá dentro diz para ele dar a volta, e ele corre para a outra porta, e então as duas portas da carrinha abrem-se, ao mesmo tempo, são de aço, fazem uma muralha, fecham o cerco de vez, e de dentro da carrinha saem polícias. Penso: "Estes casos costumam ser amnistiados." Não sei se ele é culpado, nem de quê.
Depois estou numa parte da floresta que é a Terra dos Ursos. Essa parte da floresta está perto de uma auto-estrada e de outras vias de comunicação. Não é escura, nem sombria. Os ursos andam quase sempre erguidos em duas patas. O chão está cheio de bolinhas de cocó muito pretas. Uma menina diz-me que o cocó dos ursos é utilizado como fertilizante, e que os ursos estão a ser ensinados a fazer cocó de pé para não sujarem o pêlo.
Aquela parte da floresta tem muitas clareiras, e não é bonita porque está muito próximo da civilização e das estradas. Essas coisas. Acho que as árvores têm pó. Acho que os ursos comem folhas das árvores. Depois a menina está a segurar um urso bebé que está a fazer cocó numa sanita, e é um ursinho gorila. Sei que os ursos são perigosos, mas é como se aquele perigo, aqui, estivesse absolutamente controlado, porque há pessoas que estão a tomar conta daquela situação há muito tempo.
Depois a ML vai ser operada de urgência. Agora há enfermeiras a pô-la em cima de uma marquesa, e médicos que a vão operar à barriga, e a luz é azul. Ela não parece importar-se porque gosta de hospitais, e médicos e operações. Até parece que está um bocado orgulhosa. [...]
Depois estou num comboio, e venho para Lisboa e tenho três mensagens no telemóvel, só que não consigo atender, porque o Lula mexeu naquilo, acho que me desacertou o sistema de receber mensagens. Fico muito zangada. E frustrada. E as mensagens são todas de trabalho. E grito.
http://ante-et-post.weblog.com.pt/2006/12/contra
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