quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Estes homens-peixe são doidos

NOITE DE 5 PARA 6 DE SETEMBRO DE 1997
Estou num hospital. Na cama ao lado da minha está aquela velhinha amorosa. Ela afinal ainda está viva, só que perdeu a memória. Portanto é ela, e já não é ela. Eu estou no hospital, mas é como se já não estivesse completamente internada. Eu estou quase curada. [...]
Depois sonho que ouço gritos do lado de fora da minha casa. E há uma família francesa com muitas crianças. [...] Depois há um homem que vem ter comigo para me levar não sei onde. E quando o homem se aproxima eu abraço-o e beijo-o. Intensamente. Demoradamente. Ele corresponde. É um abraço sem fim, de uma intensidade enorme. E vamos, abraçados, para dentro de uma casa.
Depois sonho com o Paulo que diz que se tornou mais sensível às amizades e aos afectos. Estou sentada numa cama a vê-lo aproximar-se de mim. Lembro-me de pensar «como ele tem um ar tão duro». Como se fosse uma pedra.
Depois sonho com o A. que fez uma birra muito grande à Helena. Ele tenta dormir na rua, mas tem tanto frio que não consegue. E primeiro tenta tapar-se com folhas, mas o cacimbo da noite é excessivo. Depois mete-se dentro de água, porque há ali um lagozinho, ou um rio, e a água, apesar de tudo, é menos fria do que a noite. Mas não consegue descansar. E tem cada vez mais frio. E eu penso «estes homens-peixes são mesmo doidos. E teimosos. Outro qualquer morria de pneumonia, este nem vai nem ficar constipado." E penso que o Drew é parecido com o pai. Depois ele mete-se no carro e lá está a Helena, que traz uma grande manta e embrulha-o. E eu fico tão aliviada.
Depois olho para o céu e o céu está cheio de desenhos nas estrelas, e eu quero percebê-los. E são desenhos como nos livros, mas não são desenhos mágicos como já vi noutras alturas.

Sem comentários:

Enviar um comentário