domingo, 26 de novembro de 2006

Correntes cobrem o corpo dos amantes

NOITE DE 12 PARA 13 DE FEVEREIRO DE 1995
Um prédio em obras e dentro de um vagão de entulho está o Paulo Ab amarrado com correntes. As correntes estão á volta do seu peito e ele está deitado num contentor das obras. Olho sem perceber o que devo fazer nestas circunstas, e vejo uma mulher, ao lado dele que tem uma das pontas da corrente na mão. A mulher olha para mim e atira com essa ponta para dentro do vagão. É como se ela estivesse a dizer-me "agora é contigo." Então vejo que ele não está amarrado mesmo, só está coberto com todas aquelas grilhetas e anéis de ferro, mas como a ponta está solta nem precisa de se desamarrar. Ele só precisa de sacudir-se, ou desembrulhar-se.
Agora eu sei que está nas minhas mãos soltá-lo, até porque as correntes já só o cobrem.
E eu sinto que agora, sou ele.
Depois há um pombo frágil, no chão. Esse pombo não consegue levantar voo. Percebo que é porque ainda não lhe tiraram a mensagem que leva agarrada, à pata ou ao pescoço. Tiro a mensagem, mas não a leio, e ergo o pombo no ar em direção ao pombal. Ele, ainda frágil, bate as asas e consegue voar. Entra no pombal e mistura-se com os outros.
Depois estou a recordar um amante indiano, mas nem sei o seu nome, nem tenho dele qualquer memória.

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