NOITE DE 25 PARA 26 DE FEVEREIRO DE 1998
Um homem está a varrer uma rua, e essa rua é quase particular, e é uma rua que é só um passeio. O homem tem uma vassoura de cerdas de palha, e, ao varrer debaixo de uma mesa varre um pássaro que rola na minha direcção. É um pássaro pequeno que ainda não aprendeu a voar. É uma bola de penas curtas e bico fortíssimo. Travo-o com o pé, para não o deixar fugir, porque se pode magoar e morrer. Entre nós, e somos três, constrói-se uma espécie de triângulo para impedir que ele fuja dessa área, até que algum de nós o apanhe.
E as penas do pássaro não se distinguem como penas. E são uma mistura de duas cores, parece-me, pouco definidas ainda. Creio que uma das cores é amarelo.
O meu filho apanha-o e segura-o. Ele não tenta fugir. Reparo que tem uma goela muito grande, cor-de-laranja, cor-de-carne, muito real, muito viva.
Não sei como alimentar aquela espécie de pássaros. Agora sou eu que o segura. Penso. devo fazer uma pasta com este bolo, mastigá-lo na minha boca e depois dar-lhe?
Ao meu lado, sobre a mesa há uma tigela de água. Faço bolinhas de bolo, humedecendo os dedos, e meto-lhas na boca.
créditos imagem: http://www.flickr.com/photos/birdbit/1577872665/
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