quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma espécie de agência de viagens do Além

NOITE DE 24 PARA 25 DE FEVEREIRO DE 1998


Agora, no cais, vejo uma coisa incrível. Uma onda gigantesca. O mar encapela-se subitamente numa única onda monstruosa. O mais engraçado é que não estamos no mar alto. Nem sequer em mar aberto. Estamos numa espécie de marina, ou tanque gigantesco. Como os tanques das filmagens. Os dois barcos são erguidos e enrolados na onda monstruosa. Depois caiem de novo à água. É extraordinário porque não se partem, nem submergem, nem se voltam. Vejo o homem do leme, agarrado ao leme, durante aquela incrível operação. Tem um ar muito concentrado e é muitíssimo forte.

Depois estou numa casa grande, numa sala com muitas cadeiras. Vejo uma mulher avançar na minha direcção. Essa mulher é espírita. Está lá também um senhor espírita. Fico muito contente porque julgo que eles me vão responder a coisas que preciso muito de saber. Mas eles só falam com os mortos. Conversam comigo, mas as preocupações deles são os mortos. Têm de encomendar almas. Então penso: será que lhes posso pedir que tomem conta de mim quando morrer?Afinal eles conhecem o caminho. São uma espécie de agência de viagens do Além.
Depois falo com a mulher dos mortos, mas só pelo telefone. Conto-lhe a história da casa, ela quer saber quanto é que eu vim ganhar, mas não lhe digo a verdade. Depois há um silêncio. Um silêncio tão grande que até me apetece desligar. Os meus filhos, no entanto, fazem muito barulho. Digo-lhes para se calarem, mas não me ligam.
Depois oiço, do outro lado da linha uma voz que começa a responder-me. Diz:
«Não há problema nenhum com a mudança.» Pergunto se vou mesmo ficar a viver ali. Responde:
«Só se quiser.»
Não sou capaz de perguntar mais coisas. Coisas mais importantes ou tão importantes como essa, porque não confio na mulher. E os meus filhos continuam a fazer barulho e eu perco a paciência e bato num deles, que entrou na sala aos gritos. Tinha pedido à voz do outro lado da linha que aguardasse, e tapo o bocal.
Depois peço desculpa ao meu filho, mas ele respondeu:
«Agora quando quiser falar comigo, fale com os desenhos animados da televisão.»

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