quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma mulher capaz de levar o carro nestas condições

NOITE DE 22 PARA 23 DE FEVEIRO DE 1998
Mudanças, muitas mudanças. Voos para Paris, via Genéve. Não sei se chego ou não a apanhar o avião, mas isso não é o que importa. O que importa são as conexões entre as coisas. E os telefonemas. O sonho é banhado pela luz do crepúsculo. Não é uma luz muito clara. As estradas são secundárias. E eu estou no Porto.

Outro sonho. Estou na praia e estão a elogiar os meus filhos. Digo:
«É porque sempre viveram perto do mar, foi isso que os tornou tão abertos e tão inteligentes. Chegamos a viver numa casa em que o jardim entrava pela praia».
Olho à minha volta à procura de alguma construção que possa servir de exemplo, ou de medida de comparação.

E volto a sonhar com mudanças. Estou no Porto. Ando de carro, e é de carro que subo a prédios e a sítios assim, e acho incrível a maneira como a senhora que está comigo consegue levar a carro até pelas escadas. Estamos a mostrar a casa às pessoas que a vão habitar a casa depois de mim. Depois estamos no terraço. Digo-lhes que a casa é muito boa, e que fui muito feliz ali. As pessoas estão indecisas. Então, a mulher que está comigo começa a descer, com o carro, por rampas e escadas, e eu olho sem fazer nada. Ela desce assim, do terraço para o rés-do-chão, onde estão muitos homens a conversar. E são todos políticos.
A mulher está mesmo a chegar cá abaixo. Tem um dos braços fora da janela, os músculos contraídos, porque está a levar o carro à força de pulso, agarrando-se à parede, enquanto, com a outra mão agarra no volante. Vê-se que está a fazer um grande esforço, mas não abre a boca. E é estranhíssimo. Nunca tinha visto nada assim. Então ajudo-a. E toda a gente toma consciência do que se está a passar e vêm ajudar também. Só que, na verdade, já nem é preciso, embora tenha aliviado o esforço dela. E um dos homens, que é politico, diz:
«Uma mulher capaz de levar um carro nestas condições é capaz de fazer tudo o que quiser. É maravilhoso.»
E nem me liga, e eu sinto-me posta de parte.
E depois há um cão que está comigo, e ladra muito. E aparecem muitos lobos e rodeiam-no em círculo. Não tenho pena do cão. Ladra muito, é muito irritante. [Acordo e ouço o estúpido do cão da vizinha que ladra o dia inteiro.]

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