quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Vou para a minha estrela e a minha estrela é Tau Ceti

NOITE DE 19 PARA 20 DE JANEIRO DE 1998
Alguém está a tentar pôr a trabalhar uma mota de metal reluzente, mas o motor não arranca. Estamos num caminho verde, num planeta vegetal. Ali, a moto não faz sentido. Perguntam-me que tipo de velocidade pode dar uma máquina como aquela, e como é que as pessoas confiam a vida a uma estrutura tão frágil. Respondo: «já andei a mais de 200 km por hora numa mota daquelas». Alguém diz: «que loucura. Por isso é que se morre tanto nas estradas». Eu digo: «quando se anda assim não se tem a consciência do perigo. E é deslumbrante fazer curvas a tocar o chão, àquela velocidade.»
Neste planeta as máquinas não são importantes. Penso: «afinal é possível viver de outra forma, tão evoluída, sem ser preciso cobrir a Terra de destroços.»
Estou ali de passagem. Vou para a minha estrela. A minha estrela é Tau Ceti.
Antes estou na Terra. Dentro de um carro, com outra pessoa. Essa pessoa é uma mulher. Depois, o carro tranforma-se numa nave muito pequena. A mulher diz-me que não tenho de me preocupar com nada a não ser com apertar bem o cinto porque vamos descolar. A velocidade que vamos atingir, para já, são 900 quilómetros por hora. A nave parece uma bolha. Sobe com tanta força que eu não consigo colocar o cinto de segurança. Às vezes ficamos quase de cabeça para baixo. Subimos, subimos, mas apesar de tudo vamos sempre vendo a Terra. Nunca subimos tão alto que nos encontremos no espaço sem fim. E isso, de certa forma, dá-me pena. Às vezes tenho medo que a minha estrutura física não suporte o esforço de elevar a da máquina. É como se o esforço de levar a máquina para o céu seja suportado por mim e pela mulher que está ao meu lado.
Depois estamos naquele planeta verde, que fica fora do sistema solar. E há um mapa de estrelas, e parece quase um mapa mundo da Terra. Mas na zona marcada a negro que assinala o ponto onde estamos (e onde, parece já chegamos há algum tempo), faz-me lembrar o corno de África. Em seguida mostram-me os outros mapas com as rotas que é preciso seguir para ir para a minha estrela. E explicam-me o significado do tempo. A estrela para onde eu vou fica a dez (?) anos-luz da Terra. Pelas rotas normais, dos astronautas, significaria que seriam preciso mesmo dez anos do tempo da Terra para lá chegar. Mas, dizem-me que essa forma de viajar é completamente obsoleta. Ninguém que anda pelas estrelas a utiliza, «porque não há tempo para isso».
E eu vejo, num sistema tridimensional, a imagem de uma luz que avança como um piscar de olhos, materializando-se numa cintilação a tracejado, agora aqui, depois acolá. Num momento é um ponto de luz aqui, no outro é um ponto de luz muito mais à frente:«É assim que se viaja pelas estrelas» -- expicam-me.

Sei que foi assim que viajei até aquele corno de África zodiacal. E pergunto à pessoa que está comigo -- e que nunca vejo -- se não é esse o princípio da física quântica. A pessoa diz: «é esse exactamente. Ondas e corpúsculos, luz e energia, a matéria reduzida á expressão mais simples, onde já não há matéria, mas só energia». Diz-me muito mais coisas, que esqueço.
Agora tenho de voltar á Terra, porque sim. E estou num sítio que é a minha casa da terra, a reunir papéis que preciso de levar. Meto esses papéis dentro da pasta amarela onde tenho já todos os meus manuscritos. E telefonam-me para dizer que o táxi já chegou e eu tenho aí uns cinco minutos para descer para ele me levar ao local onde a nave me aguarda. Então a mãe da Alexandra vem ao telefone dizer-me que fez um café e tem pão para eu não ir em jejum, e que ainda dá tempo para passar lá por casa. E depois estou em casa, na casa de Lisboa, com a Marta e ela arranjou a casa que está lindíssima. A casa de banho está muito maior. Está na mesma mas está muito melhor. E ela tirou os dinossauros da banca, que agora está praticamente vazia, há um armário debaixo do lavatório, mas como essa área aumentou imenso, praticamente ao se vê. E em cima da banca há uma jarra com gladíolos vermelhos.
E eu abro com uma facilidade incrível uma garrafa de Raposeira.  

Sem comentários:

Enviar um comentário