sábado, 7 de outubro de 2006

O Cão Padrinho, a Festa, a Cidade de Brinquedo


NOITE DE 7 PARA 8 DE AGOSTO DE 1994
Uma grande festa. Sou convidada e intima dos organizadores da festa. Tenho de chegar a casa (é minha? deles?) e mudar de roupa. Tenho um vestido preto, decotado. À entrada da casa já está muita gente. Passo por um Segurança e falo-lhe. É meu amigo. Digo-lhe que vou mudar de roupa e depois volto. Falo com mais algumas pessoas e depois subo. O apartamento está cheio. Amigas minhas. Toda a gente está a preparar-se. Chamo as pessoas para me ajudarem, mas saíram todas. Tinha ouvido qualquer coisa nesse sentido mas não tinha acreditado. Quando me vejo no apartamento vazio, pouco iluminado, apanho um choque, até porque não estou pronta. E as luzes estão muito baixas. Tento acender, mas os interruptores são rotativos. A luz aumenta gradualmente. Há um painel de luzes, vou tentar acender quantas puder. O apartamento é muito grande e assusta-me assim, pouco iluminado.
Consigo acender um ecrã que começa a piscar, interminavelmente, a notícia da falência de uma pessoa muito famosa, que também é o dono do apartamento. Tento desligar o painel, mas não consigo. Quando tento desligar acendo outra coisa. Então vejo o elevador, Arte Nova, a subir suavemente e na penumbra do hall as sombras desenham no seu interior uma cadeira, uma corda, uma pessoa. Percebo tudo e começo a gritar: “não! não! João não faça isso. Deixe-me dar-lhe um abraço e vamos falar sobre isso.” – Estou angustiadíssima. Ele olha para mim com um olhar vazio e percebe apenas que perdeu a oportunidade. Depois corre.
Agora eu estou a correr atrás dele por umas escadas rolantes, imensas, e não consigo apanhá-lo. Há gente por todo o lado, uma autêntica multidão, tipo Wall Street, mas ninguém percebe ou quer perceber o tipo de drama que se vai desenrolar. Consigo chegar a uma plataforma de metropolitano onde ele entrou, mas não deixam entrar mais ninguém.
Olhamo-nos.
Peço à arrumadora que me deixe passar, ele limita-se a deixar a porta aberta, mas não entra mais ninguém. Ao meu lado está um cão. Um boxeur. Tem o focinho permanentemente húmido e um ar muito feroz. Faço-lhe festas. Ele é a transformação de alguém que conheço muito bem. Sei que só ele me pode ajudar. Penso que se não fosse assim não estaria tão confiante, ali com a cabeça dele deitada no meu joelho.
Comentamos o que se passa e o cão fala, e a voz do cão é a voz de Marlon Brando no Padrinho. Dá as suas explicações e depois puxa de uma cigarreira e pede a um homem, que entretanto se aproxima, se não se importa de a abrir. Lá dentro está uma chave para jogar na Bolsa. O cão pede ao homem para usar a chave. Diz-lhe que jogue, por si e pelo João, para o salvar da ruína. O homem está indeciso e eu não percebo porque é que o cão está a oferecer uma coisa de tanta responsabilidade a um desconhecido.
Então, pego eu na cigarreira e começo a fechá-la e a brincar com ela. Chega outro homem que começa a interrogar o primeiro. É um detective da polícia.
Penso que tive sorte em guardar a cigarreira. O outro homem está a ser interrogado. É uma coisa sem importância, simples rotina, e o cão cala-se. Agora ninguém sabe que ele é um cão que fala. Depois eu e o cão apanhamos um avião e voltamos. A cidade, aos nossos pés, tem uma consistência de maqueta. Digo, é a primeira vez que viajo por cima de uma maquete de cidade.
Nos lugares das casas estão casas de brinquedo, como as das crianças, em verde água. Nós estamos a voar sobre uma cidade de brinquedo.

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