domingo, 8 de outubro de 2006

O gato no cemitério e a actriz brasileira a ver Gil Vicente


NOITE DE 25 PARA 26 DE MAIO DE 94
Um comboio. Um caminho sinuoso entre montanhas. Não me lembro qual o meu lugar. Penso que acordei e contei a mim própria um longo sonho cheio de lágrimas.
Penso no Joshua. É tudo tão vago.
Mesma noite
Um passeio muito estreito. À minha frente um homem rabugento. Estou com um dos meus filhos. Há uma gata e um gatinho a mamar, mas que foge quando tento agarrá-lo, o que eu faço para evitar que ele vá para a estrada e seja atropelado.
Ele foge à minha frente e o homem rabugento também. Não quero que o homem o apanhe. Passamos à frente de um cemitério e o gatinho corre lá para dentro. O homem começa a discutir comigo, e, com os meu filhos mais novos. Fico tão zangada que lhe vou bater, mas de repente a zanga passa-me e olho para ele com o coração em paz e digo-lhe, “pronto, vou entrar no cemitério, vou encontrar o gato e dou-lho. E você vai ajudar-me a encontrar a minha caneta.”
Entro. Com medo porque é de noite ou está a anoitecer, e aquele local é triste, húmido e há no ar um sopro de morte, como uma ameaça escondida. Então dou três passos, e a certa altura estou noutro cenário. Depois encontro o Joshua, e ele dá-me um abraço. Trepo para cima de uma mesa. Assim fico muito mais alta, e agora é ele a subir para cima da mesa. As nossas cabeças quase tocam o tecto. Estamos abraçados mas não dá muito jeito, nesta posição. Além disso estamos a rir. Só que a seguir estou numa loja de coisas africanas. Tenho uma orelha infectada. Uso os brincos de diamantes que trouxe da viagem à Africa do Sul (com o Joshua) e ele aconselha-me a pô-los de parte. Digo-lhe que é ouro, mas ele desconfia. Tiro o brinco e dou-lhe para analisar.
Há, naquela loja, várias coisas que me interessam. Cruzes. Coisas de usar ao pescoço.
Saio e estou numa festa. Não tenho cadeira, mas arranjo uma, e sento-me naquilo que se pode considerar a primeira fila, embora a arrumação da sala seja um tanto ou quanto caótica.
No palco, que não é bem um palco – visto que não existe uma divisória entre cá e lá –está sentada uma artista brasileira muito conhecida. Está sentada numa posição de ioga, de pernas cruzadas. Pergunta-me, numa voz sem som – só a articular as palavras – se estou a gostar “daquilo”. É óbvio que ela está a detestar. Eu também acho o espectáculo um disparate. Julgo que a peça é qualquer coisa de Gil Vicente mas a forma como os actores, que não são actores, – mas pessoas da área em que trabalho, – dizem é texto é pouco cuidadosa. Além disso pronunciam as palavras num tom muito duro. Penso: os cenários são trapalhões, mas o guarda-roupa é óptimo.

1 comentário:

  1. A caneta acabou por aparecer mas foi noutro sonho... noutro contexto. Um dia conto.

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